
Percorri então caminhos passados, por mim muitas vezes calcorreados, fui revivendo o passado, recordando as minhas visitas habituais... sempre tão diferentes, sempre com novas descobertas. É engraçado como o chão que piso é o mesmo na sua forma, chego a pensar que, aqui, a erosão do tempo apenas renova e rejuvenesce o solo em que navego.
Estranhamente sinto uma enorme e estranha sensação de deriva… caminhos que conheço tão bem… mas sempre que neles minha alma percorre, parece que caminho à deriva por rumos conscientemente traçados… sinto-me guiado pelo leito da floresta… sinto-me como peixe na água… que não sabe propriamente nadar, mas que se sente mais que nunca em casa. Inúmeros pensamentos e emoções já eu deixei por aqui… quem sabe se não será por isso que tudo me parece estranhamente familiar… quem sabe se não é por isso que, aos meus olhos, a erosão não existe… conheço demasiadamente bem tudo aquilo que, as mutações existentes não são mais que meras névoas que o chão erradia, mas que o olhar consegue filtrar e desvanecer!
Faço uma pausa… deixo-me «atracar» num porto mais seguro… deixo-me permanecer aqui, mesmo debaixo desta árvore, fazendo dela o cais onde as amarras da alma se deixa repousar… sento-me primeiramente… e como uma folha que agora cai da arvore… deixo meu tronco fazer-se passar por essa folha… seguindo ate ao chão pintado de verde.
É assim que avisto o céu… verde… ponteado aqui e além com pequenos lagos azuis… Sabem, escutando com atenção… acho que este vento que por aqui passa… vem do mar… mas, afinal o vento não será tão imenso quanto o mar? Assim como uma onda… que percorre os oceanos e esmorece em várias e distantes costas… também o vento incorpora em si enormes distancias… assim como uma onda é uma massa gigante de água (água que já foi ar) … o vento não será mais que uma massa de ar (ar que já foi água) … que vai «varrendo» a alma de todos os seres. Deve ser por isso que, imensas vezes, quando sentimos o vento a acariciar as folhas das árvores, o som produzido se confunde… com o som do mar.
Estou aqui… longe de tudo e de todos… atento à dança das folhas ao sabor da melodia que o vento possui… sinto que se fechasse agora mesmo os olhos… e visse unicamente os sons, por certo o som do ranger da árvore, seria a visão de uma pobre embarcação em pleno oceano… mas… não… não, tudo o que agora mesmo a minha alma avista é este verde… sim, hoje não me apetece ver mais longe… hoje fico por aqui mesmo…
Já sentia saudades de ver o presente… de sentir apenas o agora, sem fazer disso uma ponte para a margem do passado ou do futuro… hoje, resolvi dar um presente a mim mesmo… esse presente era…o presente! Tirei o embrulho feito de folhas verdes… e de lá saiu, aquilo que os meus olhos vêem… quanto ao restante… ficaram apenas em mim… e em cada uma destas folhas!