quinta-feira, julho 21, 2005

É Fogo, é fogo…

Em cinco sentido podemos resumir esta estranha calamidade que ano após ano, lá prossegue a sua ritual busca pelo negro!
Vislumbro… ao longe, vagas de fogo erguendo-se até ao cimo das montanha, fazendo do arvoredo uma mera escadaria de acesso ao topo de tudo que é montanha, e não cedendo, continua o forte caudal de fogo ritmado com a música que o vento em si transporta. Vemos, continuamos a ver, com um misto de incapacidade e indiferença, emaranhado pelo aperto que nos envolve o coração, vemos e continuamos a seguir o rumo deste rio de fogo.
Escuto… os estalidos suaves do fogo a devorar, com prazer, a mais pequena das faúlhas… escutamos também, a som voraz do fogo que inunda e engole de uma só vez fauna e flora… escutamos o velho passo de dança, umas vezes calmo, outras vezes mais revolto, mas... lá prossegue, o seu fado, com cores de paixão, fazendo um tango assassino com o seu par de destino... o vento. Pelo meio… há ainda o burburinho, as sirenes dos soldados da paz… dão voz ao grito de guerra para mais uma batalha… e as gentes, as gentes, materializado pelas vozes agudas femininas, fazem transparecer com gritos, gemidos e desmaios de silêncios a expressão de medo que lhes inunda a alma!
Cheiro… cheiro o calor… é possível mesmo sentir o aroma de prazer que o fogo tem… é possível rever imagens, com o simples cheiro da névoa de fumo que vai invadindo as fronteiras inatingíveis do fogo…mas também aqui ele é um vencedor, também nos locais mais distantes do epicentro, o fogo faz-se notar, pode estar muito longe de nós, mas o aroma que existe no ar, faz-nos perceber que ele, ele está bem próximo de nós, entrado em nós, camuflado no oxigénio que respiramos e livremente, circular em nós!
Estas a ver este aroma? Pois bem, cheira a olhos verdes que outrora foram tocados pelos ecos de azuis oceânicos.
Toco… e toco mesmo partes de fogo… é quente, sem que fisicamente lhe toquemos, diz-nos ao ouvido o tacto, que… aqui há fogo! Será talvez por isso que a forma do fogo, é ainda para nós algo moldável, incontrolável e indefinida… não podemos tocar-lhe… não podemos criar uma única imagem, é sempre mutável… todavia, sem que haja de facto toque… sentimos na pele a sua mensagem.
Sabor… a que saberá o fogo… qual o seu paladar… provavelmente seja de sabor a cinza… existe o travo amargo ao ver um cenário deste, existe sempre um paladar nauseado pela devassidão causada. Todavia, não será de estranhar se existir também, o doce sabor da liberdade… o doce sabor a gratidão por alguém, num determinado local e momento, criar ali mesmo uma nova família… um fogo, que se vai ramificando, uma nova arvore genealógica que busca a sucessão… uma arvore de fogo que se alimenta de outras arvores… qual canibalismos entre tribos…
Não deixa de ser curioso saber que, foi este mesmo fogo, que fez de nós – Humanos – aquilo que em grande parte hoje somos!
É fogo… é fogo… é fumo e mais fumo… ali, na floresta, as lágrimas não chegam sequer ao solo… o calor logo as transforma em gás… em nuvem de fumo… em lágrimas que lavam a própria cinza do crematório florestal. Porque não, sentir com todos os sentidos… o vale de lágrimas que inundam os nossos céus… certamente que, algo em nós vai provocar. Eu não esqueço que, há dias, passava todos os dias por uma estrada com companhias deliciosas, tinha como cenário todos os sons e sorrisos que uma floresta me poderia dar… hoje, apenas numa margem persiste o verde…a floresta! Assim como para um rio ambas as margens são fundamentais, na floresta acontece o mesmo… aquela rua que pelo meio dela passava… fazia com que as duas margem fossem o início e o fim de um só sorriso… ora, uma vez aniquilado o princípio, deixa por si só de haver fim… e se o fim, também ele desaparecer, deixa de fazer sentido… o princípio do fim continuar a viver! (Inicio - Os sorrisos não existem pela metade - Fim)

3 comentários:

Unknown disse...

O escuro cada vez mais ganha terreno à luz..
A morte à vida...
Cabe a nós a preservação das mesmas...
Todos somos culpados/inocentes desta tragédia que nos vitima...
Consciencia...
Apelemos à nossa consciencia...

Anónimo disse...

Gostei. Mando um sorriso inteirinho e pergunto se são só 5...
MJ

Filipe disse...

MJ...
Pois... serão só 5 os sentido?! Pois, por certo que não, alias, na verdade não sei bem a quantidade de sentidos que o ser humano detem! Segundo o q vai sendo dito... existem esses 5 sentidos; sendo eles mais fisicos ...é natural que haja muitos outros sentidos que, nós proprios ainda nao descobrimos sequer!
Todavia, e atendendo ao tema já por si naturalmente quente... não queria ser mais incendiário a esse ponto..levantar mais duvidas sobre o que realmente vai ardendo... se as florestas apenas, ou se também, muitos outros sentidos que residem em nós...querendo e desejando ter a força e a liberdade expressa pelo fogo!