terça-feira, junho 21, 2005

Sobre o Azul, D(e)ivagar...

Estou Cansado...
Ainda tenho uma hora de trabalho pela frente e sinto-me mentalmente cansado, sente-se mesmo na pele que, por mais vontade que tenha de pensar, a cabeça apenas sente um enorme vazio!
Tento abstrair-me de tudo... o radio já nem o escuto... apenas o ruído do ar condicionado faz-me companhia, não sei bem porquê; talvez seja uma forma de me transportar para outros ambientes... imaginando-me então num outro mundo.
O ruído anterior...passou agora a som... um som harmonioso... fui transportado para o interior de uma floresta imensa... escuta-se apenas o som das conversas entre as arvores.. não se percebe bem o q falam elas, mas deve ser mais um daqueles momentos em que estamos rodeados por pessoas e assuntos...e aos poucos vamos ficando cada vez mais distantes de tudo e todos... ficando as palavras.... como meros murmúrios imperceptíveis. É provável que esteja nesse estado... longe deste ambiente diário... e por dentro de um novo cenário... mas dentro dele, também não me sinto presente, muito pelo contrario... há uma misto de realidade e imaginário que me afasta e me aproxima de nada... estando envolvido pelo tudo... mas de significados nulos!
Um chamamento de uma colega de trabalho desperta-me agora sim para a realidade, foi mais um daqueles momentos de conversa tipicamente laboral ... as vezes até estranho mesmo, onde vou eu buscar estes conhecimentos?! Não deixa de ser curioso como.... mesmo sem querer, mesmo sem muito esforço fazer... os conhecimentos estão presentes em nós... vindo de um local que o nós próprios desconhecemos! Mas, também não quero lá muito saber... admito que sempre fui um pouco preguiçoso para com as lides mais ligadas ao trabalho... apenas o sentido de responsabilidade parece-me ser o causador destas sensações.
Aparte disto... lá me remeti um pouco mais aos estranhos pensamentos anteriores... acho q no entretanto, perdi-me... já não sei bem onde estou... hummm... olho fixamente para o nada... aquele típico olhar de parvo... que buscamos algo q não sabemos e num local que desconhecemos.... mas... azul... sim, o chão aqui é azul... não se trata sequer de uma porcelana, mas sim uma alcatifa em flopex (nem sei bem o q isto quer dizer...mas, também não deve interessar a ninguém!). Retive-me então no «Azul»... e...deixei-me levar... fui novamente parar à imagem anterior... lá estava eu novamente, em volta da conversa das arvores... aquilo que para nós não é mais que o normal som do movimento das folhas e ramos das arvores provocado pelo vento... ali, naquele instante, parecia-me sim, um dialogo... umas vezes calmo, outras vezes mais turbulento, mas um dialogo entre elas... Que será que comentavam elas? Será que deram pela minha presença? Foi despindo-me de sensações e vestindo-me de folhas ...sim, também desejava ser uma arvore, também eu desejei saber o que elas falavam, também eu respondi ao capricho da curiosidade, mas... quem uma vez que fosse, não desejou ser uma arvore... por muito ou pouco tempo...mas, o suficiente para ver e sentir pelo seu prisma.
E ali estava eu... ao alto...sentindo a caricia do vento... hummmm... como não podem elas falar... o vento transporta imensos ecos...vozes distantes... os humanos enviam mensagens escritas dentro de garrafas para o mar... as arvores, porventura... enviam os seus ecos ao sabor das dos ventos... Todavia, naquele momento não senti que aquilo que discutiam era algo distante, sentia-se na raiz que era algo bem mais importante... a seiva que pelo interior corre... vai numa velocidade alterada... o vento até esta calmo, daí as mensagens recebidas de outras latitudes não serão alvo de conversas... contrariamente ao habitual, desta vez vinha do interior da terra o estado alterado da conversa... não teria sido nenhum arrufo entre placas tectónicas... a terra não estremecera! Que seria então... mesmo eu entrando na casca (pele) de uma arvore, nem mesmo assim eu conseguia descortinar o que realmente se passava...ate que... se fez luz... sim, literalmente luz! Na verdade aquilo que para nós é sombra...provocada pelo pela luz solar e lunar... na realidade é uma luz própria... uma nova fonte de alimentação ao ser humano... por certo mais que uma vez já nos retivemos debaixo de sua sombra... pois... será que essa sombra não será sim a luz própria de uma arvore? Será que o encantamento dessa luz, não reside na sua temperatura e capacidade de abrigo? Será que a sombra... provocada por uma outra luz, não é sim... uma luz própria... única... e, ate ver, incompreendida?!
À medida que a seiva percorria cada centímetros de minha amplitude, ia-me cada vez mais incorporando a sua personalidade... dando assim, azo as minhas interpretações...Sim... a sombra... é também uma luz... sim! Pode parecer algo contraditório, mas no essencial se luz é vida... é temperatura... e novos horizontes... porque motivo, não poderia ser também considerado como luz... aquela sombra... que tantos nós... tantas vezes... procuramos, buscamos, habitamos e nos encontramos?!
Se é imaginação minha ou não... não sei... mas, ate encontro fundamentos minimamente lógicos... mas, se é para dar largas à imaginação... sé é para levar avante os nossos sonhos...as nossas realidade, então... porque não fazer do chão de uma floresta, um azul imenso... porque não imaginar que a clorofila da erva é azul e não verde... uma imensidão de folhas que caem no azul do oceano, ou então que permanecem em queda livre pelo azul do céu... em busca do locar ideal para aportar... e melhor ainda... nesse azul imenso... poderíamos pelo oceano caminhar... pelos céus nadar... e pelo chão... flutuar!!
Era bom que assim fosse... mas, bom por si já foi este meu olhar sobre... o chão azul do meu local de trabalho... agora... há que regressar à realidade... até qualquer dia...

quinta-feira, junho 16, 2005

[...]


Sopro…
Sopro de vento cansado
Em minha alma reserva descanso
Não fica muito, logo segue desalmado
Sonhando com melhor recanto.
Alma…
Alma pelo vento copulada
Nas alquimias das poeiras
Faz de mim página voltada
Na historia de minhas teias.
História…
Historia pelo vento contagiado
Em nuvens sísmicas que ruge
Caminho semeando rumo embriagado
Na esperança de colher o grito que urge
Grito…
Grito pelo vento arrasador
Tu que estas longe, vem a mim
Desagua em sorriso de plena dor
E limpa de vez este trilho sem fim.
Trilho…
Trilho construído em passos de vento
Com contornos de árvores solitárias
Juntos, fazem de uma breve noite de relento
Forte sorriso de emoções imaginarias.
Emoção…
Emoção de ventos passados
Fazem de seus sábios percursos
Viva voz nos lábios marcados
No destino que urge de recursos.
Vento passado,
Embrulhado no presente
Filtra o puro ar, transpirado
Nas gotas da sede ausente.
Vento presente,
Com invisível parecença
Apenas nossa sombra ausente
Confisca o paladar de tua crença
Vento Futuro,
Com olhares de rezas anunciadas
Encaminhas o tempo para escuro
Final ansiado, das lágrimas veladas.

quarta-feira, junho 01, 2005

Ventos e Mar…


Um destes dias, estava eu de regresso a casa, escutando naquele momento a TSF, por breves segundos num daqueles «medleys» publicitário à musica portuguesa que naquela estação vai (muito e bem) passando, eis que surge uma musica que já não escutava à muito tempo.
Cantava Jorge Palma, «enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar…»
Uma simples frase, uma simples melodia para que no regresso casa, não mais desvia-se o pensamento daquelas palavras. E lá continuava eu a andar, a estrada lá se mantinha, era mais uma velha conhecida, sabia perfeitamente a rota ideal para não danificar a viatura, todavia, todos os dias, havia motivos para comprovar a não aprendizagem, aquela que supostamente o ser humano vai adquirindo com a vivência.
Apesar de tudo… enquanto houver estrada, eu vou continuar… seguindo meu caminho, sendo ele mais ou menos objectivo, mais ou menos pretendido, seja o do desejo ou do sacrifício… eu vou continuar, tenho que continuar. Pergunto-me então porquê?! Porque a estrada existe, e nela teremos que continuar, mas isso não é suficiente para nós humanos, continuamos porque, acima de tudo, há ventos e mar que persistem com a sua sedução cativar o interesse dos nossos olhares, dos nossos aromas, de todos os sentidos! Talvez seja isso que leva a não pararmos!
Mas que estranha esta contradição, que nos leva a não parar quando estamos menos conscientes da realidade… sim… porque o mar é assim mesmo, avistamos o horizonte, como que querendo abarcar tudo aquilo que a imensidão oceânica esconde… porque mesmo que o vento seja forte, forte o suficiente para nos obrigar a fechar os olhos, não será essa escuridão visual que nos fará parar… É nessa estranha sensação que reside a força da nossa existência, sentindo que no meio de tanto desconhecido, existe algo nosso, algo que só a mim diz respeito…
E assim eu penso…e assim eu sinto… pelo imenso mar adentro parto… sentido os ventos de todas as direcções… num horizonte interminável… de olhos fechados, vejo que o meu sentido, não é norte, não é sul, não é qualquer ponto cardinal… é apenas a liberdade de se sentir à deriva… e será essa liberdade, de mim próprio, que me vai ajudar que «ali» … está o meu Eu!
Enquanto houver ventos e mar… eu não vou parar, mesmo que para isso… em ventos eu vá mergulhar!